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05.10.21

NOVO ENSINO MÉDIO- Educador aponta aspectos da flexibilidade curricular que devem ser tratados com atenção pelas escolas

Doutor em Educação, o Prof. Roberto Rafael Silva analisa desafios e perspectivas do modelo a ser adotado a partir de 2022

NOVO ENSINO MÉDIO- Educador aponta aspectos da flexibilidade curricular que devem ser tratados com atenção pelas escolas

Em artigo intitulado “Pistas para pensar sobre o Novo Ensino Médio”, o professor Roberto Rafael Dias da Silva, que é doutor em Educação e integra o Programa de Pós-Graduação da universidade jesuíta Unisinos, do Rio Grande do Sul (RS), aborda os desafios e perspectivas das escolas em todo o Brasil, diante do Novo Ensino Médio. Previsto para entrar em vigor a partir do ano que vem, o novo modelo está em fase final de ajustes pelas instituições de ensino para cumprimento da legislação. O Colégio Antônio Vieira é um dos que estão bem adiantados no processo, até porque já contava em seu currículo com princípios e projetos agora tidos como novidade do Novo Ensino Médio, a exemplo do Projeto de Vida e estímulo ao protagonismo estudantil. Representantes da equipe pedagógica do Vieira também participaram de seminário sobre o tema promovido, no início do ano, pela Rede Jesuíta de Educação (RJE), em que o Prof. Roberto Rafael Dias da Silva foi um dos palestrantes. Vamos, então, conhecer algumas de suas considerações? 


Pistas para pensar sobre o Novo Ensino Médio

Por: Roberto Rafael Dias da Silva*

O processo de elaboração de propostas para o Novo Ensino Médio, ora vivenciado pelas escolas de nosso país, vem acompanhado de inúmeros desafios, controvérsias e perspectivas. No início do próximo ano letivo, como é de nosso conhecimento, os variados sistemas de ensino promoverão intensos movimentos de reformulação curricular, direcionando-se para a promoção de itinerários formativos mais sintonizados com as demandas contemporâneas. Os variados documentos orientadores desta reforma, particularmente materializada na Base Nacional Comum Curricular, sinalizam que os currículos desta etapa da educação básica serão organizados em dois grandes blocos, quais sejam: a) formação geral básica (que visa uma educação geral nas áreas do conhecimento); b) itinerários formativos (percurso flexível a ser escolhido pelos estudantes). Não resta dúvidas de que a grande mudança estará em atribuir centralidade para o protagonismo dos estudantes e a sua capacidade de realizar as melhores escolhas em suas trajetórias escolares.

Vale destacar que a definição desta arquitetura curricular requer uma nova sensibilidade pedagógica que nos permita diagnosticar possibilidades de planejamento e organização das aulas, mas também especificidades da relação das juventudes com a concepção de escolarização oriunda da reforma. Escolho, neste breve texto, problematizar uma das questões mais emblemáticas desta proposta: a centralidade atribuída às escolhas individuais dos estudantes. Elencarei alguns apontamentos para melhor compreendermos as mudanças que estarão em curso e colaborar para a proposição de políticas capazes de efetivamente dialogar com as juventudes contemporâneas.

De acordo com o Prof. Roberto Rafael Dias, o protagonismo juvenil deve partir de uma construção pedagógica


  
ANÁLISE EM TRÊS PONTOS

O primeiro ponto que gostaria de destacar refere-se ao entendimento do protagonismo juvenil como uma construção pedagógica e não uma mera condição natural ou atributo político. Diferentemente do que têm sinalizado alguns especialistas, o protagonismo não deveria ser considerado como um ponto de partida para a reorganização dos currículos, uma vez que o protagonismo é resultado de uma complexa relação pedagógica direcionada para a construção da autonomia intelectual dos estudantes. O protagonismo, sob esse argumento, precisa ser considerado como um ponto de chegada. Objetivamente, organizar um currículo em torno do protagonismo juvenil implica no desenvolvimento de um conjunto de referências educativas e um amplo debate – envolvendo estes sujeitos – acerca dos propósitos formativos.

O segundo aspecto que precisamos considerar, de modo vigilante, no processo de elaboração de nossas propostas curriculares para o Ensino Médio encontra-se na possibilidade de empobrecimento curricular. Basear a organização dos currículos somente na escolha dos estudantes pode nos colocar diante da ausência de um repertório compartilhado de experiências, organizadas a partir da ciência, da tecnologia, do trabalho e da cultura. Certamente que a percepção dos estudantes sobre a vida e sobre o mundo é fundamental para o desenvolvimento de boas propostas curriculares; entretanto, não é recomendável que seja o principal ponto de ancoragem para nossos currículos.

Para o educador, a flexibilização curricular é desejável, desde que ofereça possibilidades de acompanhamento aos estudantes

 O terceiro e último ponto que gostaria de destacar, que inclusive já tenho explorado em outros textos de divulgação e na assessoria de políticas de juventude em algumas redes de ensino, refere-se aos riscos de as escolhas individuais serem convertidas em estratégias que prejudiquem aos mais fracos. Michael Sandel, em sua obra “A tirania do mérito”, instiga-nos a pensar sobre os limites do mérito enquanto um conceito orientador da formação humana. A promessa da liberdade das escolhas individuais esconde complexas desigualdades e pode nos distanciar “das obrigações de um projeto democrático compartilhado”. A leitura do filósofo torna-se bastante atual para examinar o contexto de uma reforma curricular ancorada nas escolhas realizadas pelos estudantes. Em outras palavras, a flexibilidade curricular é desejável; mas, somente na medida em que ofereça possibilidades de diferenciação e acompanhamento pedagógico aos nossos estudantes, para além da “ética do sucesso” que hoje nos divide e hierarquiza.

*Doutor em Educação, o Prof. Roberto Rafael Dias da Silva integra o Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), no Rio Grande do Sul. É editor da Revista Educação Unisinos e bolsista de Produtividade em Pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).


Fotos: Secom/CAV (registros feitos antes da pandemia)

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