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19.04.23

A questão indígena na educação: quebrando estereótipos e preconceitos

Artigo de Taquari Pataxó destaca importância das escolas apresentarem os povos originários para além da folclorização

A questão indígena na educação: quebrando estereótipos e preconceitos

Após ter participado, no Colégio Antônio Vieira, da abertura da exposição Maká-Makaú – que reuniu no ano passado obras do fotógrafo Pedro Nunes com imagens do cotidiano do povo pataxó no sul da Bahia –, o indígena Taquari Pataxó fez um artigo especial para a Revista Vieirense sobre “A Questão Indígena na Educação”. Estudante de Direito, Taquari traz no texto fatos e reflexões importantes que voltamos a destacar neste Dia dos Povos Indígenas. Confira!

A questão indígena na educação: quebrando estereótipos e preconceitos
Por Taquari Pataxó – indígena, estudante de Direito

Embora os indígenas tenham tido os primeiros contatos com os colonizadores portugueses há mais de 500 anos, na atualidade pouco se sabe sobre esses povos. O fato é que “o Brasil não conhece o Brasil, o Brasil nunca foi ao Brasil”, como bem ressaltam Aldir Blanc e Maurício Tapajós. Em geral, o conhecimento que a população brasileira tem sobre os primeiros habitantes deste país é superficial, homogeneizante e, muitas vezes, com base em visões preconceituosas e estereotipadas. Os indígenas e suas culturas são, na grande maioria dos casos, abordados na sala de aula de forma superficial, sem profundidade e a devida relevância que a questão exige.

O folclore idealiza o “índio” a partir da ótica do imaginário popular, não guarda, portanto, qualquer relação com os indígenas reais, existentes no Brasil, que são povos diversificados, com línguas, culturas, histórias e saberes próprios. Promover uma educação que esclareça a existência das duas diferentes perspectivas: o “índio” inventado na imaginação popular e os povos indígenas, originários deste país, é fundamental para evitar eventuais equívocos.

A folclorização cria índio que não existe, senão no imaginário popular. O problema é que muitas pessoas acabam confundindo as diferentes versões, como se elas fossem iguais. No folclore, o índio é equiparado à mula sem cabeça, ao saci-pererê, à mãe-d’água etc. Os objetos de desejo e admiração popular são os cocares, colares, arcos e flechas, pinturas… Contudo, o ser humano indígena, pessoa real, é descartado.

Ainda que o Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2010, afirme que no Brasil existem 305 povos, com 274 línguas e uma população de mais de 800 mil pessoas, muitos brasileiros, erroneamente, ainda continuam a acreditar que os indígenas são uma porção homogênea e que, supostamente, seriam possuidores dos mesmos fenótipos e dotados dos mesmos atributos culturais. No entanto, esses povos são bastante diversos quanto aos modos de ser, viver e existir.

RESSIGNIFICANDO CURRÍCULOS

Os indígenas estão presentes nas cinco regiões do Brasil, vivendo tanto na zona rural quanto na zona urbana. Essa população cresce acima da média nacional e vem se organizando a cada dia para reivindicar seus direitos. Deste modo, os indígenas não estão acabando ou em processo de desaparecimento, como alguns teóricos, equivocamente, chegaram a afirmar.

Assim, faz-se fundamental que os educadores, e as escolas em geral, ressignifiquem seus projetos pedagógicos no sentido da valorização da temática indígena, até porque a prevalência de currículos escolares colonizadores ajudou a estabelecer uma visão superficial e limitada sobre os indígenas e suas culturas. Sendo assim, por muito tempo, as escolas negligenciaram as culturas, as histórias e os aspectos sociais dos povos indígenas – o que deixa a impressão de que as contribuições desses povos seriam menos relevantes ou pouco significativas.

POVOS DO PRESENTE

Os indígenas têm lutado para ter espaço na sociedade e serem vistos como povos do presente, e não como parte do passado. Na maioria das escolas, a temática indígena só vem sendo lembrada, quase que exclusivamente, quando se estuda a “História do Brasil”, mais precisamente no chamado “Descobrimento” ou no “Dia do Índio”. Ou seja, a questão indígena é, por muitas vezes, tratada na sala de aula somente em momentos específicos, contribuindo para um ensino escolar cheio de lacunas e imprecisões.

Por fim, mesmo que nos últimos anos tenham surgido medidas normativas, a exemplo das leis 10.639/2003 e 11.645/2008, que obrigam o ensino das culturas e histórias indígenas e afrodescendentes nas escolas brasileiras, do ponto de vista prático são ainda raros os casos de instituições educativas que têm avançado em relação a essa temática.

Cultura indígena e formação cidadã*

Fruto de uma educação que está sendo sempre ressignificada para o tempo presente, o Colégio Antônio Vieira, por meio do seu Departamento de História, “tem desenvolvido um trabalho sobre os povos e a cultura indígena com o objetivo de contribuir para a formação humana e cidadã, por meio da busca de excelência em práticas educacionais, com cordialidade e equidade para a transformação social”. É o que explica o professor Thiago Palma, orientador das equipes de estudantes do Vieira medalhistas nas edições da Olimpíada Nacional de História do Brasil (ONHB).

Segundo ele, a proposta pedagógica visa proporcionar ao educando a formação necessária para uma melhor compreensão das sociedades e a formação sociocultural brasileira, a questão indígena no Brasil contemporâneo, entre outras”, diz o professor. Para além da sala de aula, o Vieira também promove exposições, palestras e atividades esportivas sobre a temática, a exemplo dos Jogos Indígenas.

No caso da mostra de fotografias Maká-Makaú – com registros, feitos pelo fotógrafo Pedro Nunes, da cultura e de expressões do povo pataxó no sul da Bahia –, o evento não se limitou à contemplação pelos estudantes, sendo adotado como proposta formativa em atividades interdisciplinares.

Outro exemplo foi a palestra sobre o projeto “As Cartas dos Povos Indígenas ao Brasil”, coordenado pela professora Suzane Costa, da Universidade Federal da Bahia (Ufba). “Essas cartas traduzem e desmontam os ciclos de silenciamento e invisibilidade radicalmente vividos pelos indígenas ao longo da nossa história literária e política. Também acreditamos que são cartas de um Brasil ainda inexistente para muitos. Daí a importância e a urgência do seu estudo como material didático nas escolas”, diz a professora, que falou sobre o tema para estudantes do Ensino Médio Noturno do Vieira.

Fotos: Secom/CAV.
*Este segundo texto é de autoria do Secom.  

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