“Anísio Teixeira teve vida pública marcada pelos valores obtidos no Vieira”, afirma Pe. Geraldo
Ex-diretor administrativo do Colégio, o padre conta curiosidades sobre o ex-aluno ilustre, como parte das celebrações pelos 120 anos de nascimento do educador
Em série comemorativa dos 120 anos de nascimento do ex-aluno ilustre Anísio Teixeira, o Colégio Antônio Vieira traz uma entrevista com o padre jesuíta Geraldo Coelho de Almeida, SJ, que revela curiosidades da relação do educador com a escola. Licenciado em Filosofia e em Teologia, mas também um grande estudioso da História, sobretudo, da Companhia de Jesus no Brasil, foi contemporâneo de Anísio Teixeira, embora sem conhecê-lo pessoalmente. Pe. Geraldo, SJ, ingressou no Vieira em 1955, onde residiu e trabalhou, tendo assumindo, inclusive, o cargo de diretor administrativo. Ele conta um pouco da trajetória de Anísio Teixeira até chegar ao Vieira e o quanto a formação do Colégio o inspirou na vida pública e na luta por uma educação de qualidade para todo o País. Confira!
1 – Para o senhor, que tem uma relação de carinho de mais de 60 anos com o Vieira, por que os 120 anos do nascimento do educador Anísio Teixeira constituem um marco que deve ser celebrado não só pelo Colégio, mas também por toda a sociedade brasileira?
Anísio Teixeira foi um grande homem, uma inteligência privilegiada, um grande educador, um marco, portanto, na história do Colégio Antônio Vieira, assim como da Educação na Bahia e do Brasil. Infelizmente, embora eu me considere seu contemporâneo, não tive a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente. Ele faleceu em 1971, quando em eu ainda estudava Teologia, um ano antes de minha ordenação sacerdotal. Contudo, lembro-me bem da repercussão que esse fato provocou na época, pois foi uma morte trágica, aliás, até hoje não suficientemente esclarecida. Ele teria caído, acidentalmente, no fosso de um elevador, mas há muitas dúvidas se isso não teria sido provocado. Seu nascimento, no entanto, merece ser dignamente celebrado. Anísio foi um homem que incomodava com suas ideias, que buscava soluções educacionais para o povo, além de ser muito ativo. Completou seu curso de Direito no Rio de Janeiro, assumiu o cargo de diretor da Instrução Pública, hoje equivalente ao de secretário de Educação, no governo de Góes Calmon; estudou na Europa e nos Estados Unidos e, quando de lá retornou, assumiu, novamente, a Secretaria de Educação da Bahia, já no governo de Otávio Mangabeira. Marco de sua inquietação criativa pela educação foi a fundação da Escola Parque, em Salvador. A partir da década de cinquenta, vamos encontrá-lo novamente no Rio de Janeiro, sempre envolvido com projetos educacionais. Foi o idealizador e fundador da Universidade de Brasília. Mas, com o Movimento de 1964, como aconteceu com muitos outros intelectuais da época, caiu em desgraça.
2- Nascido em Caetité, no interior baiano, como Anísio Teixeira veio a se tornar um aluno da Companhia de Jesus?
Caetité já estava se preparando para ser sede de diocese, o que, de fato, veio a acontecer em 1913. O arcebispo da Bahia, Dom Jerônimo Thomé de Souza, sabendo que, na cidade, havia sido fundado um colégio protestante, buscou também implantar uma instituição educativa que oferecesse às famílias católicas a possibilidade de educarem seus filhos, conforme sua própria tradição religiosa. Para os jesuítas, apenas chegados de Portugal, a aceitação desse projeto foi uma verdadeira epopeia. Basta pensar na viagem de Salvador até lá: ia-se de navio até Cachoeira. Lá, pegava-se o trem até um povoado chamado Machado Portela, pois, na época, a estrada de ferro só ia até esse lugar. De aí para a frente, a comitiva prosseguia em lombo de burros, atravessando a Serra do Sincorá, parte da Chapada Diamantina, para finalmente, depois de quase uma semana, chegar ao destino desejado. Isso tudo, porém, não impediu que os jesuítas iniciassem o colégio, naquelas paragens. Começou a funcionar em 1912 e chamava-se Instituto São Luiz Gonzaga. E foi assim que, entre os primeiros alunos, encontrou-se o menino Anísio Teixeira, filho de uma tradicional e influente família da cidade. Pouco tempo depois, em 1914, ele já veio para o Vieira.
3 – Se ele já estudava em uma instituição jesuíta em sua cidade, por que a opção pelo Vieira?
Como o estabelecimento estava ainda no começo, ele precisava prosseguir seus estudos. Muito provavelmente, o pai de Anísio, ouvindo falar do Colégio Antônio Vieira, teria sido aconselhado pelos jesuítas que, certamente, já tinham percebido o grande talento do aluno prendado. No Vieira, Anísio veio a conhecer o padre Luiz Gonzaga Cabral, SJ, um grande educador, chegado à Bahia em 1917, que além de professor de Língua e Literatura, também dirigia as Congregações Marianas, associações de formação católica que, no colégio, estavam organizadas de acordo com a faixa etária e a escolaridade de seus membros. Anísio, naturalmente, logo se tornou um congregado fervoroso e destacado. Também passou a ser, cada vez mais, um grande admirador do Pe. Cabral, pela sua liderança, dedicação e exemplo de homem sábio e santo. Por sua vez, o Padre Cabral logo enxergou no jovem a inteligência privilegiada, um grande potencial para a Igreja e para a sociedade. Nessa época, Anísio, cada vez mais identificado com os ideais da Companhia de Jesus, manifestou, inclusive, o desejo de ingressar na Ordem. O Pe. Cabral chegou a deslocar-se até Caetité para obter o consentimento do “coronel” Deocleciano, pai de Anísio. O padre, entretanto, não obteve êxito na missão, pois o pai de Anísio mostrou-se irredutível perante a ideia de seu filho se tornar padre, mesmo que fosse jesuíta.
4 – É verdade que, mesmo depois, como ex-aluno e assumindo importantes cargos públicos, Anísio manteve o vínculo com o Colégio?
Até certo tempo, sim. Logo quando esteve à frente da Educação Pública, na Bahia, ele posicionava-se muito próximo do Vieira. Era membro atuante da Congregação Mariana dos Acadêmicos. Nas festas cívicas, colaborava para o deslocamento dos alunos, providenciando até bondes especiais para isso. Depois, os estudos nos Estados Unidos, sobretudo a influência recebida do filósofo e pedagogo John Dewey, que era agnóstico, acabaram contribuindo para arrefecer um pouco a relação que Anísio ainda mantinha com o Colégio, como ex-aluno. Mas, pode-se dizer que, mesmo registrando-se um certo arrefecimento com o passar dos anos, ele sempre mostrou-se reconhecido e solidário com o Vieira, onde se preparou para a vida. Mais do que isso: nos seus projetos, nos seus posicionamentos humanistas e em seus ideais educacionais, pode-se perceber que sua vida pública continuava marcada pelos valores que adquirira nos bancos e no ambiente do Colégio Antônio Vieira.
CLARICE NUNES
Confira também a entrevista com a professora Clarice Nunes, considerada uma das maiores conhecedoras da obra de Anísio Teixeira. Doutora em Ciências Humanas, dedicada à História da Educação, a professora concedeu entrevista exclusiva para o site do Vieira e participa de live, como parte da série especial do Colégio pelos 120 anos de nascimento do ex-aluno ilustre.
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