Secretário para Educação da Província dos Jesuítas avalia desafios de 2020 e traça perspectivas
Pe. Sérgio Mariucci, SJ, analisou cenários advindos com a pandemia, em entrevista exclusiva para o Vieira
À frente da Secretaria para Educação da Província dos Jesuítas no Brasil e coordenando os trabalhos da Comissão de Educação da Província, o padre Sérgio Mariucci, SJ, faz uma análise do ano de 2020 e os reflexos de uma pandemia que mudou a rotina das escolas em todo o mundo. Ele destaca as lições de superação que marcaram as instituições de ensino da Companhia de Jesus em um período tão desafiador e traça perspectivas para a educação jesuíta daqui por diante. Confira!
Estamos chegando ao final de um ano atípico marcado por uma pandemia que também acabou trazendo muitos desafios na área de educação. Qual a avaliação que o senhor faz da condução desses cenários pelas instituições educacionais jesuítas que atuam no Brasil?
Pe. Sérgio Mariucci – A educação, assim como outros setores da sociedade, foi pega de surpresa pela pandemia. Fomos colocados à prova em nos nossos valores e prioridades quando, no momento de crise, tivemos que a tomar decisões importantes e de forma rápida. Creio que, no âmbito da Companhia de Jesus, podemos assegurar que as decisões foram tomadas segundo o valor primeiro do cuidado com a vida. Este foi o princípio fundamental: seguir o protocolo da Organização Mundial de Saúde (OMS) e as orientações científicas em relação aos cuidados preventivos em relação à pandemia. Então, o valor da vida humana, da saúde de quem trabalha conosco e dos nossos alunos, é o mais importante por mais que se tenha consequências econômicas.
E em relação aos processos educacionais?
Sim, a pandemia nos ensinou muitas coisas. Muito do que já se conversava sobre a transformação digital, em poucos meses, tivemos que implementar. Nós tivemos uma experiência intensa de migração do presencial para o remoto. Ou seja, as aulas que antes ocorriam no ambiente físico da sala de aula, passaram a serem realizadas de forma remota em salas de aulas virtuais, por meio das muitas plataformas digitais disponíveis. Foi uma experiência que exigiu muito tanto dos professores como dos alunos e suas famílias. Houve algum estranhamento inicial, mas houve muito aprendizado. Para garantir qualidade neste processo, emergencial, os professores passaram por intensas atividades de formação docente em nível de atualização e capacitação em relação aos recursos didáticos digitais. Foi uma experiência ainda que dramática, mas muito bem-sucedida, em que nós conseguimos manter a operação, com qualidade, também no modo remoto, e isso é um grande sucesso que se deve ao empenho dos professores e também da boa vontade das famílias.
Então, ainda assim, foi possível para as instituições jesuítas de ensino
reafirmar valores e avançar em projetos…
Sem dúvida. Tivemos, de um lado, a decisão com responsabilidade de priorizar a vida humana e, por outro, uma proatividade, no que diz respeito a atualização no processo da transformação digital. E mais: nesse processo da transformação digital também, paradoxalmente, embora nós tenhamos conseguido dar continuidade a todas as atividades de forma remota, revelou-se ali o valor da relação, tanto com o professor como entre os alunos. Então, os alunos em pleno tempo de internet 5G e da alta digitalidade, deram-se conta de que o espaço da relação humana que acontece nos ambientes de aprendizagem da escola e da universidade é insubstituível.
Quais, então, seriam as perspectivas para a educação daqui por diante?
A perspectiva é de incerteza. Nós não temos como fazer previsões seguras do que vai ser. Temos a experiência de uma transformação digital vivida nesse tempo da pandemia de forma intensa, e os ganhos obtidos não serão assim passageiros. Eles terão que continuar no processo de ensino-aprendizagem. Acho que haverá uma revisão da significação das ambiências de aprendizagem, já que nós aprendemos que há outras possibilidades para além da sala de aula, e isso a gente já discutia. Então, a ambiência remota, síncrona, no processo de ensino e aprendizagem mostra-se também eficaz. Nós, certamente, vamos ter que fazer uma avaliação, dado a experiência feita, do que permanece e do que não permanece, e a previsão que eu já posso fazer é que não haverá um retorno tal como era antes, de forma alguma. Essa experiência vai marcar, significativamente, tudo o que nós entendemos por ambiência de aprendizagem, movendo-nos a avançar mais e mais na transformação digital.
Mas, como o senhor mesmo diz, é uma transformação digital que também traz muitas reflexões…
Sim, estamos certos do quanto a transformação digital também evidencia a importância do protagonismo humano no horizonte de possibilidades pelo o qual passa, agora, a civilização. Mas, as possibilidades digitais devem contribuir e nunca substituir os espaços de relação humana, de construção de vínculos e nutrição de valores que possam tornar a vida de todos melhor. Neste sentido é importante lembrar também que a pandemia revelou que, relacionado à transformação digital, está o desafio da exclusão digital. No Brasil, há 6 milhões de estudantes, do Infantil à Educação Superior, que não têm acesso à internet. Deste número, 200 mil são de escolas privadas. Os antigos problemas de acesso à educação de qualidade tornaram-se ainda mais acirrados no contexto da crise pandêmica e do desafio da transformação digital. A educação jesuíta não será cega e nem surda a este clamor!
Foto: Rodrigo W. Blum/Unisinos
Leia também
-
13.01.25
Obras no Vieirão seguem em ritmo acelerado para a volta às aulas
Requalificação completa da unidade faz parte das ações do programa Vieira 2025+
-
09.01.25
Matrículas para esportes e robótica do Vieira serão abertas de 27 a 30 de janeiro
Confira os horários das atividades extracurriculares a serem oferecidas este ano
-
07.01.25
Projeto da APM e parceria com editoras asseguram economia em itens escolares para famílias vieirenses
Iniciativas alinham-se às ações de educação ambiental e financeira da instituição
-
04.01.25
Vieira é destaque na imprensa nacional ao reafirmar princípios da educação jesuítica ao longo de contextos históricos diversos
Em reportagem na Folha de SP, diretor-geral destaca formação que alia desenvolvimento cognitivo à promoção da justiça social e consciência crítica