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O Vieirinha celebra seus 60 anos neste mês de outubro. São seis décadas de valorização das potencialidades da infância da unidade do Colégio Antônio Vieira exclusivamente destinada às aprendizagens das crianças e pré-adolescentes. A data não poderia ser mais apropriada: em pleno Dia das Crianças de 1964, no dia 12, o padre jesuíta Gino Raísa SJ (1924-2017) inaugurou o espaço. Curiosidade: ainda não era feriado – o que só veio a ocorrer 16 anos depois, em 1980, quando o Papa João Paulo II (1920-2005) consagrou a Basílica de Nossa Senhora Aparecida e oficializou o dia também para a festa litúrgica da padroeira do Brasil. 

Sim, o Pe. Gino SJ era um visionário que adorava crianças e, por isso, já considerava a data especial para inaugurar o Vieirinha. Ele foi o primeiro subdiretor do local, função similar a que hoje é ocupada pelo Prof. Renato Barros. Ele trabalha há 43 anos no Vieira, destes 22 como coordenador-geral do Vieirinha. Nesta entrevista especial, Prof. Renato (foto acima) traz um pouco das memórias afetivas que cercam o Vieirinha, que é sempre tão querido pelas crianças a cada nova geração e traduz muito da tradição em inovar que marca as instituições educativas da Companhia de Jesus. Confira!

1- Partindo do começo mesmo, o que funcionava antes no lugar onde foi inaugurado o Vieirinha? O que chegou ao seu conhecimento sobre esse espaço, que está sempre se ressignificando para tão bem acolher as crianças do tempo presente?

Prof. Renato – O que vemos pelas fotos antigas e que sabemos, do que os padres jesuítas mesmo contavam, é que havia um pequeno prédio edificado e uma área grande de pomar com muito terreno vazio, que era do colégio, mas ainda era pouco explorado para as atividades educativas propriamente ditas. Quando cheguei para trabalhar no Vieira, em 1981, tinha já o Vieirinha, que foi inaugurado em 1964, mas sempre buscando preservar a área verde, como o pomar. Era, na época, conhecida como o Pomar do Irmão Varela, como todos chamavam. Ele era um jesuíta espanhol que gostava e cuidava das plantas, das árvores frutíferas. Tinha também já um laboratório aberto, no local onde hoje funciona o refeitório dos alunos do turno integral.

2- O senhor é o colaborador com mais tempo de casa no Vieira, tendo convivido com o Padre Gino, que hoje dá nome à biblioteca do Vieirinha. O que tem a dizer sobre ele para as crianças que hoje têm suas aprendizagens neste espaço tão singular fundado pelo padre? 

Prof. Renato – O Padre Gino era uma pessoa muito querida aqui no Vieirinha. Era o subdiretor, uma figura muito presente na vida cotidiana do colégio. Ele atendia também às famílias em uma salinha onde hoje funciona o pátio de entrada do Vieirinha, onde também eram acolhidos os meninos para fazer os momentos de oração e, depois, a dispersão para as salas. Ele gostava muito do Grupo de Escoteiros do Vieira. Aos sábados, participava dos encontros dos escoteiros. Mas, no dia a dia, com todas as crianças ele sempre demonstrou muito carinho e era algo também muito recíproco. As crianças e os pais tinham muito bem querer pelo Padre Gino. Ele tinha um amor pelos livros. Inaugurou a biblioteca do Vieirinha, hoje um dos espaços mais bonitos e interativos da escola e que leva o nome dele. Mas ele gostava também dos espaços verdes e da Capela do Vieirinha. Hoje, muitas famílias de ex-alunos que conviveram com o Padre Gino trazem seus filhos e netos para estudar no Vieira, buscando justamente esse espaço renovado e atraente para seus filhos, mas que, sobretudo, preserva os princípios de uma educação feita com afeto, pensando em todas as dimensões das crianças, como já se buscava fazer e aprimorar, sempre mais e mais, desde os tempos do Padre Gino. 

3- É verdade que, quando o Vieirinha foi inaugurado, só estudavam meninos?  

Prof. Renato – Em 1964, quando houve a inauguração do Vieirinha, em 12 de outubro, ainda não havia meninas. Eram só turmas para meninos. As meninas ingressaram, primeiro no Vieirão, em 1969, já adolescentes. No Vieirinha, as meninas só começaram a estudar em 1973, quando se tem registros da primeira turma mista de crianças, com meninos e meninas, inaugurada também pelo Padre Gino. É algo que também mostra que, à medida em que o tempo vai passando, a educação jesuítica busca acompanhar os novos contextos da sociedade, sem deixar de preservar seus princípios, como parte dessa característica marcante da educação da Companhia de Jesus, que é estar atenta ao contexto e às inovações que se fazem importantes para o avanço da educação e da sociedade a cada época. Então, o Vieira seguia, dentro da tradição da educação jesuítica, inovando, criando sempre novos espaços e adotando metodologias pedagógicas atualizadas, mas sempre preservando sua essência voltada para uma formação integral diferenciada, prevista pela Pedagogia Inaciana, da Companhia de Jesus. 

4- Então, esse olhar para a inovação dos espaços e práticas pedagógicas já era previsto, no caso do Vieirinha, desde a inauguração pelo padre Gino SJ?

Prof. Renato – A educação jesuítica tem, de fato, uma característica muito importante que é essa constante atenção à inovação, de não estar fazendo sempre a mesma coisa, mas estar buscando sempre a atualização. Entretanto, não se trata apenas de inovar por inovar, pois busca sempre atender ao seu projeto pedagógico. Sempre foi e tem sido um movimento constante de pesquisa, de aprofundamento sobre como ter espaços apropriados e práticas pedagógicas que preservem, no caso do Vieirinha, a essência da infância e contribuam para a missão educativa do colégio. Assim, foi inaugurado o Vieirinha, tendo depois biblioteca, capela, laboratório, auditório, Espaço Criançando, dentre outros, mas mantendo também áreas amplas e verdes para as crianças explorarem, em momentos de aprendizagens e da mais pura brincadeira, como parte da formação integral da Pedagogia Inaciana, que busca desenvolver seus estudantes a partir de três dimensões: cognitiva, socioemocional e espiritual-religiosa.  

5- Dentro dessa proposta, o Vieirinha atual também certamente agradaria muito ao seu fundador. Que diferenciais o senhor destacaria no Vieirinha hoje?

Prof. Renato – Sim, no Vieirinha hoje, de modo especial, há também uma interação muito grande entre a natureza e aquilo que acontece na teoria, nas aprendizagens em sala de aula. Temos aqui muitas plantas, árvores, o lago com peixinhos, os micos, os pássaros, interagindo com as crianças, e é muito marcante, muito legal, dar às crianças essa oportunidade de conviver no ambiente onde, de fato, essa interação acontece, ampliando as múltiplas oportunidades de aprendizagem. As áreas verdes e também todos os outros espaços, especialmente projetados para dar vazão ao projeto pedagógico diferenciado da escola, tornam o Vieirinha um lugar muito singular para a infância.

De lá para cá, os espaços vão sendo ressignificados ganhando cores, equipamentos e se adequando ao contexto educacional, mas sempre preservando os princípios da qualidade educativa jesuíta que atravessam gerações. Temos um avançado laboratório Steam Lab, auditório, biblioteca interativa com anfiteatro, o Pátio Aquarela, quadras, piscina, salas de música e arte, a área verde e multissensorial do Espaço Criançando, além de profissionais qualificados para as aprendizagens com educação bilíngue, aulas maker, Ginástica Rítmica e muitas modalidades esportivas, robótica, em um conjunto de espaços que tanto encanta as crianças. Tudo isso, certamente, deixaria o Padre Gino também muito feliz, mas principalmente constatar que preservamos uma equipe de colaboradores que herdou essa dedicação pelas crianças, que gosta desse convívio com elas: a forma espontânea, o carinho, o jeitinho de cada uma delas, assim como ele gostava.

6- E o que, na sua opinião, traz mais felicidade às crianças no Vieirinha?

Prof. Renato – Acho que o Vieirinha tem algo que oportuniza às crianças liberdade. É um espaço para ser feliz, para as crianças se sentirem bem em seu processo de aprendizagem. Boa parte delas mora em prédios e encontra no Vieirinha uma área ampla e que possibilita a interação com plantas e animais, mas também com equipamentos tecnológicos em nosso contemporâneo laboratório Steam. Além disso, as crianças e suas famílias sabem que podem contar no Vieirinha com uma equipe afetuosa, profissional, especializada e atenta à questão do respeito à infância e sua transição para outras fases: pré-adolescência, adolescência, seguindo para o Vieirão. Então, nossa equipe está sempre em formação para promover esse cuidado, essa escuta, essa interação durante o processo de aprendizagem da criança, em nossa missão que visa formar sujeitos, cognitiva e emocionalmente, competentes, conscientes, criativos, compassivos e comprometidos com a construção de uma sociedade melhor. 

7- Tivemos uma semana especial de celebrações pelo Dia da Criança e pelo aniversário de 60 anos de pura infância do Vieirinha, traduzidos em cada rostinho feliz com a programação repleta de brincadeiras, jogos, gincana, show de talentos e atrações circenses. Após essa semana comemorativa, que mensagem dizer para as crianças e toda a comunidade escolar sobre esse espaço tão especial?

Prof. Renato – A mensagem que deixo é que o Vieirinha continua sendo esse lugar de encantamento. Esse espaço onde se pode viver a infância, de forma harmônica entre conhecimento e natureza, o saber e o meio ambiente, e também brincar. A escola deve ser um lugar para se sentir feliz, e o Vieirinha é esse lugar, onde a criança pode se sentir feliz, protegida e cuidada. E, assim, nesta semana, pudemos comemorar esse aniversário com aprendizagens, mas também brincadeiras, entusiasmo com as atrações circenses e outras atividades que foram especialmente preparadas para as nossas crianças, que são e continuarão sendo sempre a razão de existir do Vieirinha. 

Fotos: Secom/CAV.